Capitulo 7

Da arte do confronto.

Sun Tzu diz: Depois de receber do soberano a ordem de manter a campanha, o general deve concentrar as tropas e mobilizar o povo. Ele transforma o exército em um conjunto harmonioso. Depois, esforça-se para instalar as tropas em acampamentos vantajosos, pois isso é essencial para o sucesso de seus projetos e ofensivas. Trata-se de algo cuja execução não é tão fácil quanto se imagina. Amiúde, surgem dificuldades inumeráveis e variadas. É preciso não descurar nenhum detalhe para dirimi-Ias e vencê-Ias.

Assim que as tropas estiverem instaladas, deve-se examinar o perto e o longe, as vantagens e as perdas, o trabalho e o repouso, a diligência e a morosidade. Isso significa que é preciso tornar próximo o que está distante, transformar em lucro as próprias perdas, substituir um ócio nocivo por um trabalho útil, converter a lentidão em presteza.

É preciso estares perto quando o inimigo acredita que estás longe; teres uma vantagem real quando o inimigo pensa ter-te infringido algumas perdas; te ocupares de algum trabalho útil quando ele acredita que estás paralisado no repouso, e usares todo tipo de diligência quando ele só percebe em ti morosidade. Assim, logrando-o, poderás atacá-lo quando ele menos espera, e sem que ele possa reagir.

A arte de utilizar o perto e o longe consiste em manter o inimigo afastado do lugar que escolheste para teu acampamento, e de todos os postos que te parecem relevantes. Essa arte consiste em afastar do inimigo tudo o que lhe poderia ser vantajoso, e em aproximar-te de tudo o que te poderia trazer alguma vantagem. Consiste ainda em te manteres em constante vigilância para não seres surpreendido, e em vigiares incessantemente, para aproveitar o momento azado de surpreender o adversário.

Assim, elege uma via indireta e confunde o inimigo, enganando-o. Dessa forma, poderás colocar-te a caminho depois dele e chegar antes. Aquele que for capaz disso, compreende o significado da abordagem direta e indireta.

Não te engajes jamais em pequenas ações cujo desfecho é incerto; evita-as, se a elas não fores forçado. Sobretudo, evita te engajares em uma ação geral se não estiveres seguro de uma vitória completa. É muito perigoso precipitar-se em casos semelhantes. Uma batalha travada de forma intempestiva pode arruinar-te completamente. O mínimo que pode acontecer, se o desfecho for duvidoso, ou se obtiveres um sucesso apenas parcial, é ver- te frustrado da maior parte de tuas esperanças e não poderes atingir teus alvos.

Antes de te engajares num combate definitivo, é preciso que o tenhas previsto, e te preparado com muita antecipação. Nunca contes com o acaso. Depois de teres decidido começar a batalha, quando os preparativos já estiverem prontos, deixa em lugar seguro os equipamentos ociosos, faz com que teus homens se despojem de tudo o que poderia atrapalhá-los ou sobrecarregá-los. O mesmo vale em relação às armas: que só levem as que eles conseguirem carregar facilmente.

Toma precaução, quando abandonares teu acampamento na esperança de uma vantagem provável, para que o benefício a alcançar supere as provisões que terás seguramente abandonado.

Se o caminho a percorrer é longo, marcha dia e noite; dobra o ritmo da marcha; que a elite de tuas tropas esteja à frente. Coloca os mais fracos na retaguarda.

Prevê tudo, dispõe de tudo. E cai sobre o inimigo quando ele crê que estás muito distante: nesse caso, anuncio-te a vitória.

Mas se o inimigo estiver a cem léguas e só avançares cinqüenta, e ele, por sua vez, tiver avançado em número igual, deves calcular da seguinte forma: em dez possibilidades, há cinco de seres derrotado; em três, há duas de seres vitorioso. Se o inimigo descobre que vais combatê-Io quando te restam apenas trinta léguas para alcançá-Io, é difícil que ele possa tomar todas as providências e se preparar adequadamente, no tempo que lhe resta.

Assim que chegares, não proteles o ataque, sob pretexto de permitir que teus homens descansem. Inimigo surpreendido é inimigo meio vencido. O mesmo não acontece se ele tiver tempo de reagir. Em seguida, talvez ele encontre recursos para escapar ou até para te derrotar.

Não negligencies nada do que pode contribuir para a disciplina, a saúde e a segurança de teus soldados. Zela para que suas armas estejam sempre em bom estado. Faz com que os víveres sejam saudáveis e abundantes. Se as tropas estiverem mal armadas, se os víveres escassearem, e se não tiveres previamente todos os suprimentos necessários, dificilmente vencerás.

Busca entendimento secreto com os ministros estrangeiros, e mantém-te informado dos projetos dos príncipes aliados ou vassalos. Informa-te também das boas ou más intenções dos conselheiros do príncipe, pois tais indivíduos podem influenciá-Io na promulgação de ordens e proibições que poderiam contrariar teus objetivos e neutralizar todos os teus esforços.

Tua prudência e teu valor não poderiam resistir, por muito tempo, às intrigas de conselheiros mal-intencionados. Para contornar esse inconveniente, consulta-os em certas ocasiões, fingindo necessitar de sua opinião. Transforma todos os amigos deles em teus amigos. Jamais tenhas pendência com esses bajuladores. Cede nas pequenas coisas. Em suma: mantém a união mais estreita possível.

Conhece perfeitamente o meio que te cerca. Sabe onde pode se deparar com floresta, bosque, rio, terreno árido e pedregoso, pântano, montanha, colina, morro, vale, precipício, desfiladeiro, planície, enfim, tudo o que pode servir ou prejudicar as tropas que comandas. Se não puderes informar-te pessoalmente da vantagem ou desvantagem do terreno, procura guias locais que te informem com segurança.

A força militar baseia-se na dissimulação.

Movimenta-te quando estiveres em posição vantajosa, e provoca mudanças na situação, dispersando ou concentrando as forças.

Há ocasiões em que deves manter-te calmo, em que reinará em teu acampamento uma tranqüilidade semelhante à do interior das mais espessas florestas. Ao contrário, quando precisares fazer movimentos e barulho, imita o fragor do trovão. Se for preciso ficar firme em teu posto, fica imóvel como uma montanha. Se tiveres que sair para pilhar, age rápido como o fogo. Se for preciso ofuscar o inimigo, sê como o relâmpago. Se for preciso esconder teus projetos, sê obscuro como as trevas. Evita movimentos inúteis. Quando decidires enviar algum destacamento, que seja sempre na esperança, ou melhor, na certeza de uma vantagem real. Para evitar os descontentamentos, reparte sempre, de forma meticulosa e justa, todos os despojos.

Quem conhece a arte da aproximação direta e indireta será vitorioso. Eis a arte do confronto.

A tudo o que acabo de dizer, convém acrescentar a maneira de dar ordens e de fazer com que sejam executadas. Há ocasiões e acampamentos em que a maior parte de teus homens não poderá te ver nem te ouvir. Os tambores, os estandartes e as bandeiras podem substituir tua voz e tua presença. Informa as tropas de todos os códigos que pretendes empregar. Se tiveres que fazer evoluções durante a noite, que o rufar dos tambores seja o emissário de tuas ordens. Ao contrário, se tiveres que agir durante o dia, emprega as bandeiras e os estandartes para transmitir tuas mensagens.

Durante a noite, o clamor dos tambores servirá para espalhar o pânico entre teus inimigos e recobrar o ânimo de teus soldados. Durante o dia, o tremular das bandeiras, a multiplicidade de suas evoluções, a diversidade de suas cores e a estranheza do conjunto, ao mesmo tempo que informam teus homens, mantendo-os de prontidão, ocupando-os e distraindo-os, semeiam a dúvida e a perplexidade no seio do inimigo.

Assim, além da vantagem de transmitir prontamente tuas ordens ao exército inteiro, no mesmo momento, poderás ainda exasperar teu inimigo, preocupando-o com tuas intenções, angustiando-o com dúvidas sobre a conduta que premeditas, e inspirando-lhe constantes temores.

Não permitas que nenhum soldado temerário abandone as fileiras para provocar, sozinho, o inimigo. Raramente tal homem volta são e salvo. Perece pelo vulgo, pela traição, ou fulminado pelas tropas.

Quando tuas tropas estiverem bem dispostas, aproveita seu entusiasmo: cabe ao general criar as ocasiões e discernir quando são favoráveis. Mas nem por isso negligencies a opinião dos oficiais, nem desdenhes sua clarividência, sobretudo se tiverem o bem comum como alvo.

Pode-se despojar um exército de seu espírito e de sua destreza, da mesma forma que se pode solapar a coragem de seu comandante.

De manhã, os espíritos são penetrantes; à tarde, enfraquecem, e, à noite, querem voltar para casa.

Mei Yao-tchen afirma que manhã, tarde e noite representam. As fases de uma longa campanha.

Portanto, quando atacares o inimigo, escolhe, para fazê-Io com vantagem, o momento em que presumes que ele esteja fragilizado ou esgotado. Terás tomado antes todas as precauções e tuas tropas, descansadas e rápidas, contarão com a vantagem da força e do vigor. Este é o controle do fator moral.

Se vires que a ordem reina nas fileiras inimigas, espera que a desordem irrompa. Se a demasiada proximidade das tropas inimigas te perturba ou te incomoda, afasta-te, a fim de recobrares a serenidade. Este é o controle do fator mental.

Se percebes que os adversários estão animados, espera que o entusiasmo arrefeça e eles se verguem sob o peso do tédio ou do cansaço. Este é o controle do fator físico.

Se fugirem para lugares elevados, não os persigas. Se tu mesmo estiveres em terreno desfavorável, movimenta-te. Não inicies o combate quando o inimigo, com suas bandeiras bem ordenadas, apresenta-se em formações impecáveis. Este é o controle do fator de mudança das circunstâncias.

Se, reduzidos ao desespero, os inimigos vêm dispostos a vencer ou a morrer, evita o embate.

Deixa uma saída a um inimigo acossado; caso contrário, ele lutará até a morte.

Se os inimigos, reduzidos ao extremo, abandonam o acampamento, franqueando uma passagem para acampar em outro local, não os interceptes.

Se são ágeis e lestos, não lhes corras ao encalço. Se lhes falta tudo, previne-te de seu desespero.

Não te encarnices contra um inimigo derrotado.

Eis o que tinha a dizer sobre as diferentes vantagens que deves tentar obter quando, no comando do exército, terás que medir-te com inimigos talvez tão prudentes e valorosos quanto tu. Eles não poderão ser vencidos, a menos que uses os pequenos estratagemas que acabo de indicar.